segunda-feira, 30 de julho de 2012

Todo o dia 30, em mês de 31...

Retornando do XVI ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino) fico entre o desânimo e a preguiça. Foram quatro dias de encontro dentro do retiro intelectual que é a UNICAMP. Por mais agradável que seja o local e os antigos e novos amigos (re)encontrados, qualquer retiro me estressa, coisa de quem já morou em casa no meio do mato, em vila pequena, afinal, quem não tem sua própria Dogville?
Segundo Saviani, 85% dos professores de escolas públicas são formados em faculdades privadas; segundo Libâneo, os professores das escolas públicas não sabem os conteúdos de matemática e português (não tenho certeza se ele citou algum tipo de ciências) que precisam ensinar nos anos iniciais do ensino fundamental. Carlos Callegari, que substituiu a Profa. Pillar na coordenação do ensino fundamental do MEC, defendeu ferrenhamente o Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, já críticado neste blog, e a não necessidade dos 10% para educação (!!!). Mas a pedagogia crítico-social dos conteúdos, embora presente na maioria das mesas e alguns simpósios, não foi discurso hegemônico, Vera Candau, Nilda Alves, Luiz Carlos Freitas, Lisete Arelaro (aliás, de forma brilhante na primeira mesa, respondeu ponto a ponto os limites do Pacto e defendeu os 10% do PIB para a educação) fizeram a afirmação de outras epistemologias e leituras sobre as políticas que tomam o conhecimento escolar como objeto e não instrumento. Nos simpósios, destaque para a mesa dos ciclos, com Claudia Fernandes (PPGEDU-UNIRIO), relacionando a complexidade com os desafios da escola e para o simpósio de Lúcia Resende (UFPR), Ana Maria Saul (USP) e Jose Clovis de Azevedo (IPA e SEEDUC RS) mostrando possível outras formas de se fazer escola, conhecimento e avaliação.  Por fim, a pergunta que levei na bagagem voltou sem resposta, o que pode virar um bom tema de ensaio... Soma-se à demanda do ensaio, a falta de dinheiro do mês que se prolonga em um dia a mais... Coisa de todo o dia 30, em mês de 31...

sábado, 21 de julho de 2012

Frankenstein, a ciência, o humano e o XVI ENDIPE

Ainda a ciência e o humano. A história de Frankenstein continua a nos atormentar: os encontros de  epistemologia provocam a procura do entendimento do que é o conhecimento, para que ele serve, qual a dimensão da cultura no conhecimento e em quais redes políticas ele se enlaça, torna-se homogêneo e "poderoso". O questionamento que ainda nos perturba: como foi possível criar o monstro que, não se reconhecendo em nós, nos aniquila? O medo, a indiferença, o desconhecimento da criação, o mito do conhecimento, a ideia de quem está lá, saberia mais do que aqueles que estão aqui... Variações sobre o mesmo tema, o que corrói está dentro, mas ao sair nos tornou maior e vai nos matar. Não há tempo para o reconhecimento e para a reconciliação.
Frankestein, a relação entre criação e criatura. A solidão da criação e da criatura.
Dependendo do paradigma, não há solução.
Segunda-feira começa o XVI ENDIPE, na UNICAMP, Campinas.
As mesas propõem a discussão da escola pública, do conhecimento, da formação, das relações cotidianas permeadas pelas práticas.
É possível mudar o paradigma com o qual trabalhamos nas escolas?
É a pergunta que coloco em minhas tradicionais poucas bagagens.
Na volta eu conto!
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, na UNIRIO desenvolvido por meio do Projeto "Iniciação à docência: qualidade e valorização das práticas escolares", promoverá as seguintes discussões no encontro:
DIFERENÇA E DESIGUALDADE: DESAFIOS PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO - Mesa com Carmen Sanches Sampaio, Maria Teresa Esteban do Valle, Andrea     Serpa Albuquerque, Andréa Rosana Fetzner, Maria Elena Viana Souza. Dia 25-07-2012, Sessão 3, Auditório FEC, 8h30min. às 10h.
MEDIAÇÕES DIDÁTICAS E CULTURAIS POSSÍVEIS NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO: VISIBILIDADE DOS COMPROMISSOS E POSSIBILIDADES POSSÍVEIS - Mesa com Eliana Maria Ferreira Palmeira, Solange Castellano Fernandes Castellano, Claudia Miranda, Elizabeth Castanheira Cavalcanti. Dia 25-07-2012, Sessão 4, Sala da FEC 08, 14h às 15h30min.
DESAFIOS DE UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE: reflexões a partir do cotidiano escolar - de Angélica do Fundo Barbosa. Pôster. Dia 26-07-2012, Sessão 2, na TENDA.

Veja a programação completa do ENDIPE:
http://www.endipe2012.com.br/

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Comentando a Portaria 867, de 4 de julho de 2012 - Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

Mais do mesmo... Em 4 de julho de 2012 (deve ser em comemoração ao feriado estaduniense), o governo brasileiro publica a Portaria 867 que institui o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.
O “Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa” poderia ter o nome de “No Child Left behind – NCLB (Nenhuma criança deixada para Trás), a política e a estratégia é a mesma, como o resultado poderia ser outro? Penso que um outro título daria mais relevância ao foco: “Todo o poder às avaliações externas”.
Permanecem ações dúbias, articulação de políticas insuficientes e, por vezes incoerentes. Vejam a permanência da utilização do termo “letramento”, sem uma justificativa para o “e” colocado entre este conceito e o conceito de “alfabetização” (Art. 2º – Inciso I). O que Aloísio Mercadante entende como diferença entre alfabetização e letramento? Ah! Esqueci: “Você não precisa saber nada sobre crianças e educação para ser uma autoridade que define políticas para a área”. Prefiro alfabetização: leitura do mundo pela palavra... Mas esta desgraça de ser governado por quem não estuda a área não é novidade, há pouco tempo ouvi de uma Secretária (ou sectária da administração da Educação?) de Educação que aprender a diferença entre Piaget e Vygostki não era importante (além de ser óbvia, por serem pessoas diferentes...rs... é como dizer que não é importante distinguir as contribuições de Marx e Smith em economia...).
Esforço-me para entender o que será feito com os que não lerem até os 8 anos de idade...E por que a alfabetização em Língua Portuguesa (o que não deixa de ser uma redundância) e em matemática são mais importantes do que alfabetizar-se em ciências sociais e ambientais? O que sei é que matemática e língua portuguesa seriam instrumentos de uma alfabetização em ciências sociais e ambientais. Instrumentos para, não fins em si mesmo.
E entra em cena, MAIS UMA BOLSA!!!! Agora para professores alfabetizadores e “orientadores de ensino” (Art. 7º.) Parágrafo único. Carreira e salário para tornar a profissão de professor atrativa...ainda não...
Qual a novidade do art. 8º.? O Programa Nacional do Livro Didático já não existe? Ah! Descobriu-se que livros, jogos, muitos livros e jogos são bons para a escola? Não precisavam ter publicado que descobriram isto apenas agora.
Tantas páginas e palavras dedicadas a mais do mesmo: uma articulação de políticas que não consideram o que sabemos hoje sobre processos de aprendizagem e que buscam afirmar o valor das avaliações externas. Não ha dúvida que a escola pública melhorou (porque acolhe a quase todos) e precisa melhorar mais: o currículo precisa ser relevante e as práticas avaliativas precisam ser mais significativas para a promoção das aprendizagens, além da carreira mais atrativa, das turmas menores, da formação inicial e continuada igualmente mais relevantes. Mas as avaliações externas do desempenho escolar mais contribuem para desqualificar as escolas públicas, acabar com os planos de carreira e punir os professores pelo fracasso do governo na promoção de uma educação de qualidade social, laica e gratuita.
A Lei da transparência deveria obrigar à publicação (Portaria 867) trazer a verba destinada ao pacto.
Sugiro a leitura do livro “Vida e morte do grande sistema escolar americano: como os estes padronizados e o modelo de mercado ameaçam a educação”, de Dine Ravitch, Editora Sulina, 2011. Tb sugiro uma visita ao site:
https://sites.google.com/site/movimentocontratestes/